Se hoje, em pleno coração da cidade, a Figueira da Foz exibe um quadro pintado com um magnífico parque verde, tal deve-se a uma feliz conjugação de factores: a vontade dos figueirenses, a ousadia do seu presidente Coelho Jordão e o toque visionário da dupla Alberto Pessoa / Gonçalo Ribeiro Telles.
É pois nosso dever, como herdeiros de tão grandioso espaço, prestar homenagem a todos os que positivamente contribuíram para o seu erguer. Como? Cuidando, preservando, respeitando, usufruindo, dinamizando. Só assim será possível cumprir o desígnio que Pessoa e Ribeiro Telles definiram para o Vale das Abadias: que as extensas áreas verdes não fossem tratadas como grandes jardins, tornando-os economicamente inviáveis, mas sim como paisagem ecológica e biologicamente equilibrada. Atente-se, assim, às palavras deixadas por João Vaz e Luis Pena. Atente-se à inspiração das crianças que connosco colaboraram neste número. E atente-se no vazio de ideias que a autarquia colocou nas nossas questões. Por respeito aos de ontem, aos de hoje, e aos que hão de vir, exige-se um trabalho mais atento, cuidado e dinâmico por parte do município e, simultaneamente, uma maior aproximação do cidadão ao seu maior e mais bonito espaço verde.
Registe-se, em jeito de complemento recomendado de leitura, a Prova Final de Curso do arquitecto figueirense Raúl Saúde, que para além de nos ter auxiliado a contar a história do Vale das Abadias, em conjunto com as sempre prestáveis senhoras da Biblioteca e Arquivo Municipal, se debruçou sobre o trabalho que Alberto Pessoa desenvolveu na Figueira da Foz durante cerca de duas décadas. E perceba-se, que de toda a genialidade e visão que nos proporcionou, pouco mais aproveitámos que o Parque das Abadias.
Respeitemo-lo, então. Para que, pelo menos por ali, se mude o paradigma que se instalou na cidade e que Raúl Saúde tão bem remata nas suas conclusões:
No crescimento que a cidade nos revela actualmente, não é perceptível uma estratégia global ou uma ideia de conjunto, que era evidente nos estudos propostos por Pessoa. Hoje, irremediavelmente esquecidos entre muitos outros, que se acumulam no pó das prateleiras do Arquivo Municipal.