escritos de Pedro Silva

Castel di Sangro

20 Fevereiro 2014

São poucas as pessoas que têm conhecimento disto, mas penso já ser tempo de dar a conhecer ao mundo o meu maior feito enquanto dirigente desportivo. No início dos anos 90 fui presidente, director e treinador do Castel di Sangro, que como todos sabem, é um clube menor que tinha por hábito vaguear pelas divisões mais inferiores dos campeonatos italianos de futebol. Em apenas 5 épocas consegui levar o Castel di Sangro da 4ª divisão até ao título nacional italiano, derrotando colossos como a Juventus e o Milan. Três épocas mais tarde já contava no currículo com 3 ligas dos campeões e outras tantas taças intercontinentais, além de tudo o que era taça e tacinha italiana. Tudo isto foi conseguido sem batota e sob rigorosa gestão desportiva e financeira, à frente de um computador a jogar Championship Manager.

Se na gestão desportiva virtual o sucesso está ao alcance de uns cliques, na vida real outro galo canta. O futebol português é, de há décadas a esta parte, um mar de irregularidades, negócios ilícitos, batotas da mais variada espécie, benesses de propósito duvidoso, dívidas monstruosas e, em linguagem Assunção Esteves, intransparências frustracionais derivadas do hard power futebolês.  No campo joga-se à bola, fora das quatro linhas joga-se sujo. Tudo isto perante a conivência do poder central e local, que vive de braço dado com a podridão do futebol português por esses estádios fora, à vista de tudo e de todos, em directo na tv. Só assim se compreende que um ex-jogador de futebol mantenha as suas funções de director da FPF (paga por todos nós) depois de condenado na justiça por fraude fiscal. Só assim se compreende que Vieira, Pinto da Costa, Loureiros, José Eduardo Simões, João Bartolomeu e tantos outros, sejam peixe miúdo ou graúdo, continuem a ver o sol do lado de fora das grades.

Por cá, o caso não muda muito de figura. Por entres dívidas, trapalhadas, incêndios, assaltos, contratos de venda por concretizar, e sob Processo Especial de Revitalização, o ainda (??) presidente de uma das colectividades mais antigas do país, a Associação Naval 1º de Maio, propõe-se recolocar o clube no mais alto patamar do futebol português. Numa cidade sem pergaminhos na modalidade e pouco virada para este mundo do futebol de primeira linha, é com incredulidade e vergonha que assisto à degradação de uma colectividade com tão grande historial, da qual tive tanto orgulho enquanto atleta. São 9 milhões de euros de dívidas, dirigidos por alguém que deverá 600 milhões (parte dos quais caberá a nós, contribuintes, pagar), que contrata 26 novos jogadores para atacar o projecto que vai salvar o clube, a cidade, o país e o mundo.
Se é para brincar aos futebóis e tentar fazer de si o mestre mor da gestão desportiva e financeira, será preferível fazê-lo no Championship Manager.

já que aqui estás