17 Abril 2013
São Pedro que me desculpe, Santa pluviosidade que me perdoe, mas “Em Abril, águas mil” foi despedido por excesso de zelo. Para o seu lugar, também com o número mil na camisola, entra o reforço de primavera para a época 2013: “Em Abril, cortes mil”.
Cortado o grau académico do ex-doutor Miguel Relvas e consequente corte no lugar de ministro-adjunto, seguiu-se um corte de 1,25 mil milhões nos cortes que o governo preparara para 2013. Bola cá, bola lá, contra-ataque rapidíssimo e eis que a maioria responde com novos cortes. Alvo: o Estado social. O sol, quando nasce,… aliás, o corte, quando nasce, é para todos.
A vida é bonita, repleta de momentos maravilhosos e únicos, mas também é feita de cortes. Nascemos e levamos um corte no cordão que nos une ao nosso primeiro amor. Passamos a infância a levar cortes nas nossas infinitas exigências. Os cortes continuam, em tom dramático, na adolescência: que atire a primeira pedra aquele que nunca levou um corte da menina mais bonita, na festa de garagem do nosso melhor amigo. São cortes próprios do crescimento, dizem-nos.
Até que chegamos à vida adulta e, se não nos cortarem as pernas, conseguimos um emprego. Remunerado, com subsídio de alimentação, de férias e de Natal, e telemóvel e regalias mil. Segue-se um corte aqui, outro acolá, e antes que possamos dizer “A galinha da vizinha é melhor que a minha. ”, estamos a cortar na alimentação, na saúde, na educação e na ração do cão, do gato ou do periquito.
A minha experiência termina aqui. Ainda não tenho idade para levar cortes na reforma, que estará a ser cirurgicamente cortada desde que instalaram o excel em São Bento. Até lá, parafraseando um qualquer jogador da bola numa qualquer flash-interview, “é continuar a trabalhar como temos feito até aqui” (se ainda tivermos trabalho) ou “temos que levantar a cabeça” (se ainda tivermos cabeça para aguentar tanto corte). Prognósticos? Prognósticos só quando acabarem os cortes.
E agora parem lá de mandar pedras.