9 Janeiro 2014
Um dia perguntaram ao João Pinto, ex-futebolista do Porto, o que costumava fazer nos seus tempos livres. João Pinto respondeu que gostava de ler. Jornais, revistas, livros. Inclusivamente andava a ler um livro, e quando confrontado com o nome da obra, apenas conseguiu dizer qualquer coisa como “esqueci-me como se chama…”.
Ora, “esqueci-me como se chama” é precisamente o nome de um livro deliciosamente cativante, para ser lido vezes sem conta. O seu autor… um russo nascido em 1905 de seu nome Danill Harms. São dez histórias dominadas pelo disparate, sem ser absolutamente disparatado, que fazem as delícias dos mais novos, sem esquecer os graúdos, que desobedecem com grande estilo ao clássico “… e foram felizes para sempre!”, e acima de tudo que nos desafiam a abraçar o lado menos convencional da vida, e a sair, ainda que momentaneamente, da zona de conforto e da rotina que tantas vezes nos dominam.
No ano que está a começar, fica o desafio.
Sejam vocês mesmos, sendo diferentes. Não se conformem com tudo que vos imponham. Questionem tudo, sem cair na desconfiança absoluta. Façam disparates. Quebrem regras. Eliminem rotinas desnecessárias. Façam o que nunca acreditaram poder fazer, nem que seja uma só vez. Desorganizem-se, mantendo-se organizados. Isolem-se, sem se esconderem. Juntem-se, sem se atropelarem. Pensem, sem pensar muito. Se se sentem parados, mexam-se. Se não acreditam, experimentem. Se vos incomoda… gritem, esbracejem, irritem-se, indignem-se e desfaçam! Se não souberem, perguntem. Não ignorem os vossos sonhos. Não desperdicem tempo. Não inventem desculpas. Não olhem para trás e muito menos para o lado! Não se arrependam. Arrisquem. Fujam da banalidade, do corriqueiro e da coscuvilhice. Vejam o canal 293. Ouçam jazz, música country ou pimba. Abracem um varredor de rua. Dêem um pontapé no cu a um senhor de gravata. Digam “cu” em vez de “rabo”. Joguem à macaca. Façam batota. Leiam a Maria, a Playboy e o Jornal do Avante. Façam caretas ao espelho. Dancem. Passeiem nus pela casa. Acreditem na vossa criatividade. E não queiram ser o Vova da história “Óleo de peixe” do livro “Esqueci-me como se chama”.
– Ouve lá, Vova, como é que tu aguentas engolir óleo de peixe?”
– É que a minha mãe, quando tomo uma colher de óleo de peixe, dá-me uma moedinha.
– E o que é que tu fazes com essa moedinha?
– Meto-a no mealheiro.
– E depois o que acontece?
– Depois, quando no meu mealheiro se acumulam dois rublos, a minha mãe tira-os e compra-me outro frasco de óleo de peixe.