escritos de Pedro Silva

29 Agosto 2013

Há duas certezas na vida. Uma é a morte. Outra é que as redes sociais estão intoxicadas com as mais variadas e profundas frases, repletas de significado, que normalmente ninguém coloca em causa porque foram elaboradas para não haver possibilidade se serem colocadas em causa, e que nos ajudam a reflectir exaustivamente durante meio minuto sobre a vida em geral e a nossa felicidade em particular, fazendo de cada um de nós uma pessoa linda, íntegra, perfeita e com o colesterol em níveis aceitáveis, durante esses tais 30 segundos.
No fundo no fundo, após um exaustivo estudo que estará por aí a rebentar um destes dias, toda essa panóplia de pensamentos se enquadra em duas únicas bonitas frases, cuja leitura recomendo desde já.
Bonita frase nº1: Faz hoje o que amanhã te podes arrepender de não ter feito.
Bonita frase nº2: Não faças hoje o que amanhã te podes arrepender de ter feito.
Basicamente, o que nos dizem estas duas bonitas frases aparentemente contraditórias mas perfeitamente complementares, isto para quem não quer perder muito tempo com a análise psicossomática da coisa, é o seguinte: considerando todas as variáveis inerentes a uma questão, devemos ter a capacidade de tomar a decisão mais acertada.

Mais ou menos na mesma altura em que a minha pessoa se deparava com a mãe de todas as questões “vou já dormir ou aguento aqui mais uma horita?”, no seu gabinete em Vila Nova de Gaia, Luís Filipe Menezes era confrontado com a problemática “vou já dormir ou aguento aqui mais uma horita a tentar engendrar um esquema para sacar uns votos no Porto?”. Luís Filipe Menezes não foi logo dormir. No dia seguinte, naquele mesmo gabinete, e segundo o jornal Público, começou a receber moradores da Invicta com dificuldades económicas, a quem pagou rendas, facturas da luz, almoços e transporte de regresso ao Porto. Em linguagem política, um “kit cruzinha”. Questionado pelo Público sobre a prática usada, e perante a decisão de confirmar ou desmentir, saiu-se com um esclarecedor “Não quero falar rigorosamente nada sobre isso”, escancarando desde logo as portas à bonita frase nº3, cuja leitura recomendo desde já.
Bonita frase nº3: Não fales hoje rigorosamente nada sobre o arrependimento de ontem.
A consciência, e suponho que a lei, diz-me que a compra descarada de votos, seja ela em rendas, em numerário, em vale postal, em senhas de autocarro ou em vales de desconto na loja das meias, é uma actividade condenável e de baixo nível.
O caso está a ser apreciado na CNE. Um dia destes irão deparar-se com a questão “vamos já dormir ou aguentamos aqui uma horita a condenar este artista?”.
Permitam-me soltar o Professor Chibanga que há mim, no que se refere a este tipo de questões: “Vão lá dormir. Bons sonhos”.

já que aqui estás