27 Junho 2013
Na Notícias Magazine do passado domingo saiu uma interessante reportagem sobre um novo movimento que começa a ganhar alguns adeptos pelo mundo fora: o minimalismo aplicado ao estilo de vida. O princípio é simples e baseia-se no conceito em que “menos é mais”. Identificar o essencial e eliminar o resto. Focar no importante e expulsar o excesso. Não só nos objectos que nos rodeiam, mas também nos relacionamentos, trabalho e no próprio estilo de vida. Garantem os testemunhos que traz um enorme alívio e sensação de liberdade. Que torna as pessoas mais felizes e livres de stress. Pois bem, sendo a minha pessoa uma pessoa bastante fácil de convencer, lancei-me à tarefa de minimizar o que me rodeia, começando por identificar o essencial. Apenas o essencial. Fiz uma lista. Meia hora mais tarde tinha em meu poder uma mega lista de coisas essenciais. Entrei em stress. Respirei fundo, simulei uma aula de yoga no meu imaginário e acrescentei o último item à lista: minimizar as minhas listas de coisas essenciais.
Comecei a riscar coisas que afinal não pareciam assim tão essenciais. Risquei “gato” e abri a porta da rua. Há dois anos o bicho tinha-se escapado em dois segundos. Hoje limita-se a espreitar e a arrepiar caminho. Sabe bem de que lado da porta está o fiambre. Volto a escrever “gato” e entro em stress.
Mais uns alongamentos virtuais e decido abandonar a lista de coisas essenciais. Vou à cozinha e encontro uma dezena de canecas de leite, todas diferentes. Olho e volta e não encontro sinais de nenhuma família numerosa.
Volto a fazer uma lista, desta vez de coisas perfeitamente inúteis. “7,8 ou 9 canecas de leite”. Mais em cima há uns 30 copos. Ao lado a maior variedade de utensílios de cozinha da Figueira. Panelas com estranhas funções. Caixas e caixinhas de plástico abandonadas. Volto a fazer uma lista e antes de entrar em stress escrevo “eliminar sete oitavos da cozinha e dedicar-me à cozinha mediterrânica minimalista”.
Regresso à sala e olho em redor. A inutilidade em todo o seu esplendor. 80% do tempo preciso de 20% do sofá e 20% do tempo preciso de 80% do sofá. Escrevo “se possível, eliminar 50% do sofá”. Acrescento “se me livrar de 80% da inutilidade não vou sentir falta de sítios onde os pousar: eliminar 100% das mesas de apoio”. Duas guitarras. Uma é melhor que a outra. “Desfazer uma guitarra num solo de Led Zeppelin”. Estúpidos objectos decorativos adquiridos em feiras de notoriedade duvidosa enchem estúpidas prateleiras. Escrevo “É a economia, estúpido! Vende”.
Vou agora para a uma divisão que já foi um escritório e se tornou um depósito de coisas. Há uns 50 livros que pouco me dizem, uns 300 cds que não voltarei a ouvir, dossiers e sebentas de páginas amareladas, 1001 documentos ceifados pelo tempo e um sem número de brinquedos a pedir novo dono. Saio a correr, em stress pós-traumático. Na lista escrevo “O maximalismo é rei e senhor do teu ex-escritório, Pedro Silva. Talvez tenhas que comprar dinamite”.
Atravesso o corredor e chego ao quarto. Há todo um gavetão de roupas a cheirar a mofo, que ampara uma televisão minimalista. Escrevo “Um minimalista por excelência não tem televisões minimalistas nem roupa a cheirar a mofo. Doar tudo, inclusive o gavetão”. Nas gavetinhas há dezenas de pares de meias inutilizadas por certas unhas que cresceram em demasia. “Criar o evento A Festa da Meia Rota e oferecer gavetinhas ao gato da vizinha”.
Não vou falar da garagem. Decidimos dar um tempo, apenas isso. Quanto ao meu trabalho, aos meus relacionamentos e ao meu estilo de vida, algo de muito importan…
Escrevo “Minimizar o tamanho das crónicas”.