10 Outubro 2013
Há várias leituras que se podem fazer das últimas eleições. Há muitas, aliás. Imensas. Um mar delas. Dentro desta infinidade de leituras, várias ilações se podem tirar. Resmas, charters de ilações! No enorme subconjunto de ilações existem, como é do conhecimento geral, dois tipos de abordagem: a abordagem centrada nos vencedores e a abordagem centrada nos derrotados.
Se o tempo de antena me permite, vou então debruçar-me sobre a abordagem centrada nos derrotados (ou vice-vencedores, já que estamos a falar de política). E dentro dos derrotados podemos seguir um de dois caminhos, e eu vou optar por um desses caminhos embora não faça questão de esclarecer os leitores sobre a conjuntura desses caminhos, acima de tudo porque este parágrafo não está, decididamente, a levar-nos a lugar algum.
Pois bem, na minha opinião, válida para qualquer círculo eleitoral – e reparem que estou mesmo na base da hierarquia das leituras políticas -, houve dois grandes derrotados: eu e a minha pessoa.
Não me lembro da última vez que falhei uma votação, mas sei perfeitamente que nunca acertei no lado vencedor. Já fiz muita cruzinha durante a minha vida de eleitor no activo e não me lembro de desfrutar do prazer de chegar ao final do dia e sorrir para mim mesmo: “Olha… ganhámos!”. Direi mesmo que nos próximos anos, tanto eu como a minha pessoa nos sentimos mais confiantes em ganhar o euromilhões do que acertar na cruzinha vencedora de qualquer eleição. Por um lado, tal constatação deixa-me absolutamente frustrado, fazendo-me pensar que as coisas estão como estão porque o povo não segue as indicações que eu deixo no meu boletim de voto. Por outro, o facto de o voto da minha pessoa não ir ao encontro da maioria dos cidadãos, faz sentir a minha pessoa de certa forma aliviada: as coisas poderiam estar bem piores do que já estão.
Todo este conflito interno que se gera entre mim e a minha pessoa, no que à colocação da cruzinha diz respeito, acrescenta-nos a ambos um par de dúvidas. Estarei mais propício à crítica só porque falhei no lado vencedor? Poderia a minha pessoa ter feito mais e melhor na hora de desenhar a cruz no boletim? Arriscaremos um “não” para ambas as dúvidas. E arriscaremos acrescentar que acreditamos no dia em que, mesmo falhando a cruzinha, possamos dizer anos mais tarde: “falhei, mas ganhámos!”