28 Maio 2013
Se tudo correu bem com o envio deste texto, hoje é quinta-feira. Quinta-feira é, como todos sabem, véspera de sexta-feira, o dia em que lá em casa eu e os miúdos comemoramos a chegada do fim-de-semana com uma palhaçada antes de deitar. A palhaçada pode tomar variados estilos. Organizar um desfile de moda com roupa vários números acima (ou vários números abaixo, que eu também entro) é o mais popular. Equipar o gato com essa mesma roupa (“coitado, uma vida inteira de meias brancas, vamos dar-lhe a alegria de vestir outra cor”) é o mais recente. Trocar de grau parentesco, o mais arriscado.
O resultado justo da palhaçada é que uma dúzia de minutos de pura galhofa tornam irrefutável o argumento “meninos, chega de palhaçada e vamos dormir”. O resultado lógico da palhaçada é que esses momentos tornam incontestável a genuína evidência dos pimpolhos: “pai, és um palhaço…”.
Como fundador, presidente e sócio honorário do “Clube da Palhaçada da 6ª feira à Noite”, há que assumir e aceitar com desportivismo o rótulo que me é colado pelos meus próprios filhos. O clube não pretende negociar a paz no médio oriente nem alterar o regime norte-coreano. Apenas proporcionar alegres palhaçadas.
Miguel Sousa Tavares apelidou o Presidente da República de palhaço. Com todas as letras. Na minha mente surgiram de imediato imagens do Sr. Cavaco numa troca de roupas com a Srª Cavaca. Percebi que a coisa era séria quando o Sr. Cavaco pediu à PGR que analisasse as declarações do Sr. Tavares. O meu primeiro pensamento terá sido o mesmo de muitos portugueses: “palhaço!”. O meu segundo pensamento, numa análise mais racional e cuidada, foi: “palhaço!”. Os terceiro e quarto pensamentos, mais recomposto que estava da teimosia dos dois primeiros pensamentos, foram: “palhaço!”. Só ao quinto pensamento consegui distinguir a diferença entre o cidadão Aníbal Cavaco Silva e a figura de estado que é o Presidente da República. Concorde-se ou não, esta figura está protegida pelo artigo 328º do Código Penal, chame-se Aníbal ou Adalberto. Goste-se ou não do cidadão em questão, o Presidente da República foi rápido a agir e fê-lo correctamente. Não para defender o seu nome e reputação, mas sim para defender a figura de Chefe de Estado.
Não deixa, no entanto, de ser irónico, que um Presidente da República tantas vezes ausente e tão limitado na tomada de decisões corajosas, faça uma aparição de forma tão espontânea e decidida quando uma voz ao longe chama: “Palhaço!”.