5 Setembro 2013
Com o país a atravessar uma grave crise económica e financeira, com os níveis de desemprego a atingir máximos históricos, com cortes astronómicos na saúde e educação, com os impostos a subir de toda a maneira e feitio, com o país de pantanas depois de uma crise governamental, com tudo isto e mais alguma coisa, chegámos ao querido mês de Agosto e havia que dar um merecido descanso a toda esta onda negativa. O país entrou em estado vegetativo e havia agora que prepará-lo para a dura realidade do regresso à discussão da austeridade e do corte. Como? Simples. Lançando para a rua o debate sobre o fim do piropo.
O debate sobre o fim do piropo está para a rentrée política assim como o prólogo que liga Arouca a Mondim de Basto está para a volta a Portugal em bicicleta. Há que começar por algum lado, de preferência por algo que não faça gastar muita energia.
Duas feministas militantes do Bloco de Esquerda abraçaram o desafio de controlar o piropo. Como? Ainda não sabem. Nem tão pouco se é preciso legislação para travar os “Ó jóia, anda aqui ao ourives!” das ruas portuguesas. Sabem apenas que é necessário dar início ao debate, antes que comecem a cair trolhas dos andaimes.
Compreendo perfeitamente que o piropo seja desagradável para a mulher que passeia descansada na rua. Eu próprio já passei pelo papel de vítima do piropo alheio. Vesti-me de mulher, pintei os lábios, arranjei o cabelo, enchi-me de coragem e fui para a rua abanar a anca. Verdade verdadinha! Choveram piropos de todos os pontos cardeais. Ignorei o “Ó febra anda aqui à brasa”. Ainda tolerei o “Que rica sardinha para o meu gatinho”. Mas perdi as estribeiras com o “Ó jeitosa, és mais apertadinha que os rebites de um submarino” porque não sabia o que significava “rebites”. Fui humilhado (ou humilhada?) pelos maiores sacanas que já encontrei. E prometi a mim mesmo (ou a mim mesma?) que no Carnaval seguinte iria vestido de trolha.
Senhoras militantes, compreendo a vossa aflição, mas seria uma óptima ideia encontraram discussões mais importantes para o país. “A vocês não custava nada e a nós sabia tão bem”.