24 Outubro 2013
“Record de abstenção obriga a União Europeia a reflectir”, Junho de 2004
“Elevada abstenção empobrece a democracia e deve fazer reflectir agentes políticos”, Cavaco Silva, Junho de 2009
“Sobre a abstenção é preciso reflectir”, Miguel Relvas, Janeiro de 2011
“Os dados da abstenção devem merecer de todos uma profunda reflexão”, João Almeida, Outubro de 2013
Podia estar aqui o resto do dia a colar citações sobre esse nobre acto que anda no ar desde que inventaram essa coisa das eleições livres: recomendar reflexões sobre a abstenção. Não o vou fazer, por razões que esclarecerei após uma reflexão sobre o assunto em questão. Mais importante do que procurar essas razões, urge reflectir profundamente sobre o conteúdo das citações acima.
Reflictamos então sobre o processo. Há eleições. Das eleições resultam altos níveis de abstenção. Invariavelmente, seguem-se declarações a pedir uma reflexão mais ou menos profunda sobre o fenómeno. E no período que vai desde o apelo à reflexão até às eleições seguintes, que reflexões se aprofundaram sobre o assunto? Provavelmente nenhumas, uma vez que as eleições seguintes nos mostram valores de abstenção ainda mais elevados que nas eleições anteriores. A meu ver, é necessário reflectir sobre isto.
A reflexão que realmente interessa será, pois, sobre a não reflexão entre dois períodos eleitorais. Mesmo havendo alguns resquícios de reflexão, algo de errado se passa nas profundezas dessa reflexão, para não estar a produzir os efeitos desejados. O que levanta as seguintes questões. Estamos a reflectir suficientemente fundo ou limitamo-nos a reflectir à superfície? Estamos a agir em conformidade com a reflexão produzida? Ou não estamos, de todo, a reflectir?
Não reflictamos mais, caro leitor. A verdadeira reflexão foi feita há precisamente 40 anos, por um tal de Francisco Sá Carneiro, e é de tal forma profunda que dispensa qualquer nova reflexão, de tão actual que está: “A abstenção eleitoral é uma atitude lícita que pode ser politicamente recomendável”.