26 Setembro 2013
Daniel é o personagem-narrador do último livro de David Machado – Índice Médio de Felicidade. O seu amigo Almodôvar está preso. Xavier, amigo de ambos, passou os últimos 12 anos enclausurado em casa. Com todo o tempo livre do mundo, e ponderando todas as variáveis da sua vida, Xavier demora várias semanas até calcular o seu Índice Médio de Felicidade: 4,43672 numa escala de 0 a 10. E conclui que deve emigrar para um dos países com um Índice Médio de Felicidade semelhante ao seu: Bulgária, Burkina Faso, Congo ou Costa do Marfim. Justifica-o com a seguinte teoria. Encontrando-se rodeado de pessoas que têm uma média de felicidade semelhante à sua, sentir-se-á mais integrado, mais realizado. Em suma, mais feliz. Ou seja, o seu Índice Médio de Felicidade aumenta, devendo então emigrar para um país mais adequado ao seu novo índice de felicidade, e assim sucessivamente até atingir a felicidade suprema.
O Índice Médio de Felicidade dos Figueirenses não andará muito longe dos tais 4,43672. Estamos a falar de um valor igual ao de um tipo que passou os últimos 12 anos fechado entre quatro paredes. Doze anos são 3 mandatos autárquicos. Conclusão minha: o Xavier é da Figueira.
O Xavier, está-se mesmo a ver, andou a curtir à grande durante os anos de Santana Lopes. Assim que o homem se pirou, o Xavier viu a coisa malparada e enfiou-se em casa. Doze anos mais tarde saiu à rua. E o que vê o Xavier? O Xavier vê uma linda cidade com um elevado potencial índice de felicidade. Suja, desordenada, desunida, sem investimento, sem emprego, sem estratégia, sem ânimo, sem dinheiro e, acima de tudo, sem tempo a perder.
No próximo domingo o Xavier vai votar, com o propósito de voltar a atingir altos valores no seu índice de felicidade. Como o Xavier reparou assim que saiu porta fora, este tipo de felicidade tem custos. Mas o Xavier também não pretende continuar colado ao 4,43672. Nem voltar a enclausurar-se em casa. Nem tão pouco emigrar para o Burkina Faso.
Arre, voto difícil, este!