escritos de Pedro Silva

“E se ele se atirasse a um poço, tu também te atiravas?”. Quem nunca ouviu esta pergunta em forma de ralhete que se atire a um poço. Ao longo da minha vida fui obrigado a responder a esta questão vezes se conta. Isto significa que as pessoas ou desconfiam das minhas companhias ou temem que se me atiro para dentro de um poço tenho poucas probabilidades de me safar. Esta falta de confiança na minha pessoa deixa-me triste. E deprimido, ao ponto de pensar várias vezes em acabar com o sofrimento, atirando-me para dentro de um poço.

Sábado à tarde de um dia quente de Junho. Dentro do quiosque executam-se as tarefas indicadas para um típico sábado à tarde de um dia quente de Junho, enquanto se assiste a um importantíssimo jogo do Mundial (não me perguntem qual, todos os jogos do Mundial são de extrema importância). Ao longe, surge um potencial cliente em direcção ao quiosque. Passa por um ex-potencial cliente, finta outro ex-potencial cliente, e caminha isolado em direcção à banca do quiosque, onde se prepara para um frente-a-frente com o guarda-quiosques deste quiosque, eu próprio. E remata:

“A minha mulher atirou-se a um poço. No fim-de-semana a minha mulher atirou-se a um poço. Na 2ª feira apareceu no jornal: “Mulher cai a um poço”. Ora, essa mulher, que é a minha, não caiu no poço. A minha mulher ATIROU-SE ao poço! ATIROU-SE!! Eu não vi, mas sei. Ninguém viu, mas eu sei. Aquele poço não dá para ninguém cair. Aquele poço é um poço para quem se quer atirar a um poço. Portantos, eu queria o jornal de 2ª feira. Queria o jornal de 2ª feira para mostrar à minha mulher que o que vem no jornal é mentira. Tem o jornal de 2ª feira?”

já que aqui estás