Era um pastor que tinha 3 vacas e estava um daqueles dias de Inverno que parecia que ia chover o dia todo. E choveu mesmo o dia todo, como se veio a confirmar no final do dia. As 3 vacas pastavam, ignorando a chuva. A meio da manhã, enquanto caía toda aquela chuva, uma grande nuvem foi fazer companhia a uma nuvem pequenina. A nuvem grande pôs-se à conversa com a nuvem pequenina. Falaram sobre as viagens que faziam pelo mundo inteiro e também sobre o mau tempo. Pareciam orgulhosas da chuva que faziam cair lá em baixo. O sol aproveitou a distração das nuvens e apareceu a brilhar com muita força.
Com as nuvens a fazer chover e o sol a fazer brilhar, o arco-íris aproveitou a confusão e surgiu no horizonte. As 3 vacas do pastor continuaram a pastar sem se aperceberem que se formava o arco-íris. Até que a certa altura a vaca mais gordinha acabou de comer mais um pequeno-almoço da manhã, olhou para o céu e exclamou “olha o arco-íris!”. As outras duas vacas não lhe ligaram nenhuma e continuaram a pastar. E a vaca mais gordinha não parava de dizer “olha o arco-íris, olha o arco-íris!”. E as outras vacas continuavam sem lhe ligar nenhuma. Sempre a pastar, sempre a pastar. E as nuvens a conversar e o sol a brilhar e o arco-íris a colorir.
A vaca mais gordinha pedia a atenção às outras duas vacas, que o arco-íris estava bonito e elas iam gostar de ver. Até que se cansou. Afinal, pensou ela, estou a ser uma vaca gordinha bastante aborrecida para as outras, que estão a comer descansadas o seu pequeno-almoço. Este pensamento deu-lhe fome. Baixou o focinho e foi comer mais um pequeno-almoço rico em verduras, ignorando o arco-íris.
Foi então que algo de extraordinário aconteceu. As outras duas vacas terminaram o seu pequeno-almoço, olharam ao mesmo tempo para o céu, e os seus olhos seguiram uma das pontas do arco-íris, que terminava precisamente em cima da vaca gordinha. Rodaram o focinho uma para a outra e desataram numa gargalhada tal que acordaram todos os gatos da casa do pastor. O pastor, esse, continuava a dormitar debaixo de uma figueira.
Quando recuperaram o fôlego de tanto rir, gritaram para a vaca gordinha “olha o arco-íris, olha o arco-íris!”. Com a boca cheia de verduras, a vaca gordinha não conseguia responder. Mas não tinha mal, porque a vaca gordinha já se desinteressara do arco-íris e estava agora muito empenhada em terminar mais um pequeno-almoço da manhã.
Lá em cima as nuvens continuavam a sua conversa. O sol aproveitava para mostrar ainda mais o seu brilho. O arco-íris insistia em espalhar as suas cores pelo céu. Lá em baixo a vaca gordinha não parava de comer, enquanto as suas amigas gritavam “olha o arco-íris, olha o arco-íris!”. E riam, e riam, apontando para a ponta do arco-íris, que terminava mesmo em cima do lombo da vaca gordinha. Isto passou-se durante horas, até as nuvens partirem e o sol se esconder, já a noite espreitava.
Assim que regressaram ao estábulo e se prepararam para vestir o pijama, as duas vacas não conseguiram disfarçar o espanto: a vaca gordinha, uma vaca gordinha tresmalhada desde que nasceu, tinha agora o lombo pintado com as cores do arco-íris. Rodaram o focinho uma para a outra e desataram numa gargalhada tal que acordaram todos os gatos da casa do pastor, as galinhas do pastor, os porcos do pastor, a mulher do pastor, e o próprio pastor, que se encontrava ainda a dormitar debaixo da figueira. As gargalhadas foram de tal forma ensurdecedoras que todos correram para o estábulo das vacas. Os gatos, as galinhas e os porcos à frente, logo seguidos do pastor, que ainda vinha a bocejar, e da mulher do pastor, que sofria das costas e ia num passo mais lento. Chegados ao local, os gatos não sabiam se haviam de miar ou chorar a rir. As galinhas não aguentaram e morreram a rir. Os porcos não sabem rir, por isso apenas conseguiram imitar os sons que fazem os porcos. O pastor meteu as mãos na cabeça enquanto bocejava. A mulher do pastor ainda não chegara, que a senhora sofre das costas. A vaca gordinha, essa, não percebia a razão de tão grande alarido à sua volta e resolveu ir jantar mais uma vez, antes de vestir o pijama.
O pastor entrou em pânico enquanto pensava “ai que tenho a vaca estragada!”. Afastou dois gatos do caminho e começou a ordenhar a vaca gordinha. Qual não foi o seu espanto quando verificou que o leite que saía da vaca gordinha tinha as cores do arco-íris. O pastor provou o leite colorido e gritou eufórico “É delicioso!! O leite colorido é delicioso!!”.
E foi assim que a vaca gordinha se tornou a primeira vaca gordinha de lombo pintado com as cores do arco-íris. E foi assim que o pastor se tornou o primeiro pastor a ordenhar leite colorido. E não foi mais nada porque a vaca gordinha fugiu durante a noite e foi colorir outras planícies por esse mundo fora. Se a vires por aí, não te esqueças de lhe pedir um copo de leite colorido.