3 Julho 2014
Há pouco mais de um ano, o Jorge e a Andreia abordaram-me para escrever umas coisas para um projecto jornalístico figueirense que iria entretanto nascer. Com um maço de notas de 100 a passar por baixo da mesa e finos vitalícios por cima, juntando a promessa de isenção de impostos até à idade da reforma e duas entradas gratuitas (com visita guiada) ao Oásis da Figueira, não tinha como recusar.
“Escrever umas coisas sobre quê?”, questionei, enquanto assinava o contrato no intervalo de dois finos. A resposta: “o tema é livre”. Pode um homem almejar mais que escrever livremente para uma plateia de 100, depois 500, depois 1000, depois 10.000 visitantes? Pode. Hoje são 11.600.
Mas mais do que todos os benefícios que me permitiram viver desafogada e alcoolicamente nos últimos 12 meses, estava aqui a oportunidade de uma vida para recuperar e lançar para o público figueirense os poemas de amor (onde estás tu, Maria João?) que escrevera na minha adolescência. Felizmente, para mim em particular e para os figueirenses e restante universo em geral, não os encontrei. Com contrato assinado e metade da fortuna esbanjada em automóveis topo de gama e moradias de 3 assoalhadas, lancei para mim próprio a pergunta que se lança a nós próprios quando um de nós próprios se mete numa alhada propriamente dita: “e agora, pá?…”. Agora? Agora vais escrever sobre a Figueira.
Ora, escrever sobre a Figueira, e citando Daniel Santos, “ (…) às vezes é difícil, dada a exiguidade das novidades locais ou da sua reduzida importância”.
Não fiz contas, mas seguramente mais de metade do que atirei cá para fora foi sobre a cidade. Mas por vezes dei por mim a tentar escrever sobre a importância dos nenúfares no micro sistema aquático ou até sobre a influência do lagostim-anão na alimentação dos mexicanos, acabando, obviamente, por apagar tudo e cascar forte e feio no Pedro Passos Coelho, evitando assim a (não) actualidade figueirense.
Se não me falha a memória, não me arrependi de nada do que escrevi. Fiz os possíveis para ser justo. Tentei ao máximo ser coerente. “Perdi” muitas horas para ser informativo e preciso. Procurei transformar pesquisa em conhecimento. Com sucesso. Fartei-me de aprender. Continuo a ter um conhecimento bastante superficial dos problemas desta cidade e – digo-o com alguma vergonha – um grande desconhecimento sobre as virtudes e necessidades do resto do concelho. Tive grandes dificuldades em falar de coisas boas sobre a cidade. Fui mais crítico do que gostaria. Mas, acima de tudo, foi um prazer enorme escrever cada uma das linhas. Prazer, esse, que se foi.
Como tal, pela liberdade que a constituição me oferece, e agradecendo profundamente a fantástica oportunidade que me foi concedida, despeço-me com um “até logo”, fazendo votos de sucesso para o Figueira na Hora e para a Figueira cidade.