13 Novembro 2013
Aconteceu um dia destes, não interessa quando. Entrei em casa, estendi-me no sofá, levantei-me para cozinhar, comi, pensei em arrumar a cozinha mas não arrumei, verifiquei o e-mail, fiz um stand up zapping de meio minuto, cocei-me, fui à varanda verificar se a roupa estava seca e felizmente não estava, despistei-me pelo sofá, li meia dúzia de páginas de uma revista que roubei num quiosque, conduzi-me até à cama mais próxima e adormeci em 3 minutos. Duas horas mais tarde acordei, com a sensação que tinha feito tudo aquilo sem me ter cruzado uma única vez com o gato com quem partilho o tecto desde o fatídico dia em que fui obrigado a partilhar o meu tecto com um gato.
Levantei-me, estremunhado, e fui procurar o bicho. Por momentos passou-me pela cabeça que talvez nunca houvera gato algum. Puro engano. Encontrei-o a dormir no sofá onde duas horas antes tinha estado o meu rabo. Acordou, olhou para mim, executou na perfeição o focinho “ah… és tu…” e voltou a fechar a pestana. Fiz o caminho de volta para a cama mais próxima, enquanto me interrogava “onde é que falhei com o bicho?”. Estou 12 horas fora de casa e quando regresso esqueço-me que tenho um gato?…
Começo então a sentir alguns remorsos da minha fria relação com o gato, mas rapidamente faço questão de me relembrar que ainda há momentos me levantei de uma cama quente e fofa para verificar a existência de um animal que me é quase indiferente. Afinal, quantos chefes de família fazem isso pelo seu gato?
À minha lista de interrogações resolvo pois acrescentar: “onde é que o gato falhou comigo?”. Estou 12 horas fora de casa e o gajo ignora profundamente quem lhe trata da saúde, da comida e do urinol? Coloco-me no pêlo do gato por breves instantes e concluo: “Bem… é um gato… Desde que lhe tratem da saúde, da comida e do urinol, é isto que os gatos fazem”.
Já na cama, levo a problemática para outra dimensão.
Onde têm falhado os governantes deste país para com o povo português, para se chegar à situação dos dias de hoje? A lista será enorme, com certeza. Esqueceram-se do povo? Bem, por vezes lá se levantam do seu lugar quente e fofo, para verificar se ainda existe povo a quem cobrar impostos e captar votos. Afinal, quantos governantes fazem isso pelo seu povo?
Onde falhou o povo português para com os seus governantes, para ignorar de forma tão grotesca as suas asneiras sem fim? Bem, é o povo português… Desde que lhe tratem da saúde, da comida e do urinol, é isto que o povo português faz.
