escritos de Pedro Silva

19 Setembro 2013

Copenhaga, 1942. Durante a segunda guerra mundial, devido a um acesso muito limitado aos combustíveis, praticamente todos os habitantes da capital dinamarquesa usavam a bicicleta como meio de transporte.
Copenhaga, anos 60. A cidade adapta o estilo de vida americano. A população vive maioritariamente nos subúrbios, enquanto trabalha no centro da cidade. Meio de transporte utilizado: o carro. No final da década, apenas 10% utilizam a bicicleta.
Copenhaga, 1973. A crise petrolífera obriga a uma mudança no estilo de vida na cidade. O governo local introduz dias sem carros e as pessoas apercebem-se que estes são os dias mais agradáveis da semana. Aos poucos, os governantes abandonam a política virada para o parque automóvel, concentrando atenções na bicicleta como importante meio de transporte.
Copenhaga, 2013. Quarenta anos mais tarde, a capital dinamarquesa é também a capital europeia das bicicletas. Os parques de estacionamento no centro da cidade deram lugar a espaços públicos cuidados e agradáveis. Foi criada uma enorme rede de ciclovias, projectadas e pensadas de forma a tornar eficiente a sua utilização. As pessoas usam a bicicleta porque é mais fácil, mais rápido e mais barato do que tirar o carro da garagem, perder tempo no trânsito, procurar e pagar por um lugar de estacionamento. O comboio local reinventou-se. Não só passou a receber mais passageiros, como se adaptou para poder acomodar bicicletas no seu interior. No centro da cidade, a taxa de utilização de automóveis é reduzida. Na verdade, poucos são os que têm carro próprio.
Foram precisos quarenta anos, uma estratégia pensada e um sem número de boas decisões para projectar uma cidade virada para a sustentabilidade do uso de bicicletas.
Portugal não é a Grécia, mas também não é a Dinamarca. Por cá, ainda se passeiam carrinhos de bébé nas ciclovias. Ainda se corre na estrada. Ainda se estacionam os carros em cima do passeio. Ainda se pensam as cidades para dar primazia ao motor em detrimento do cidadão.
A Figueira não é Copenhaga. Diferentes dimensões, diferentes modos de vida, diferentes culturas. Não serão precisos quarenta anos, mas não é a duas semanas das eleições, com todo o propósito implícito, sem plano, nem lógica, de balde de tinta na mão, que se pintam ciclovias avulsas e se diz a uma cidade para pegar na bicicleta.

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