16 Janeiro 2014
Regressados do congresso do partido, onde terão discutido afincadamente, e possivelmente por esta ordem, o futuro de cada um deles, o futuro do partido e, quem sabe, o futuro do país, quinze militantes do CDS Algarve refastelaram-se com um belo de um leitão num conhecido restaurante na Mealhada. O repasto podia ter corrido lindamente, culminando um fim-de-semana de sonho, não fosse o facto de no final do mesmo lhes ter sido apresentada uma conta para 19 congressistas, quando na verdade apenas 15 estiveram na mesa. Na tentativa de esclarecer o erro, os congressistas receberam como justificação do responsável do restaurante: “Vocês roubam-me. Eu, para me defender… roubo-vos”.
Como grande apreciador de situações caricatas e profundo admirador de gestos simbólicos, a minha primeira reacção, ao ler o relato do acontecimento, foi de manifesto regozijo. No entanto, só um pouco mais tarde, de cabeça fria e analisando introspectivamente toda a situação, é que veio até mim um sentimento de autêntico gozo pelo sucedido. Só alguns dias depois, e para verificarem a enormidade de coração que existe aqui dentro, é que se apoderou de mim aquela vontade imensa de partir de imediato para a Mealhada e espetar dois beijos e um abraço ao senhor do restaurante!
Ninguém gosta de ser roubado. O senhor do restaurante não foge à regra e os quinze congressistas (além dos outros quatro em greve de fome) certamente também não. Nada me move contra os senhores, tão pouco os conheço, assim como pouco me incomoda esta espécie de “escrever direito por linhas tortas”. Diz muito da revolta instalada e fala por aqueles que tentam sobreviver neste lamaçal de dificuldades, aqueles em que pagar 30€ por uma refeição não passa de uma utopia. Congratulo o simbolismo da acção, a que apenas faltou complementar com o que seria um golpe de marketing perfeito: oferecer 4 refeições a 4 desempregados. E aos congressistas do CDS acrescentar: “A factura… fica em nome de Jacinto Leitão Capelo Rego? Pode ser que lhe saia o carro…”.