escritos de Pedro Silva

Queixinhas pé de salsa

12 Fevereiro 2014

Como pai de um rapazinho de 6 anos, assaltam-me com frequência algumas dúvidas sobre uma questão em particular, que apesar de não ser de extrema importância, não deixa de me causar alguma comichão na hora de tomar um partido.

Não vou muito à bola com queixinhas. Um queixinhas em ambiente escolar raramente é bem visto pelo resto da turma. Apenas recolhe louros junto das autoridades e isso, na hora do recreio, pode vir a revelar-se um problema para o queixinhas. Portanto, sempre que o rapazinho de 6 anos me vem fazer uma queixinha, o meu primeiro reflexo é desvalorizá-la. Por outro lado, já dei por mim a auditar queixinhas em grande pormenor, que me obrigam a abrir comissões de inquérito e consequentes processos disciplinares. Foi através de uma queixinha, por exemplo, que finalmente descobri que o autor das pinturas rupestres na parede da sala não tinha sido o rapazinho nem o gato. Infelizmente, o crime já tinha prescrito. Isto para dizer que por regra não me agradam queixinhas, mas que por vezes dão jeito, e me é difícil conviver com esta aparente incoerência. No fundo, procuro passar as ferramentas que permitam a um rapazinho de 6 anos ir tendo a capacidade de discernir entre uma situação que valha a pena ser reportada e outra em que terá que ser ele a resolvê-la. Ignorarei queixinhas sobre um gato que mordeu um rapazinho, mas vou querer saber qual dos felinos lá de casa me rasgou o cachecol do Benfica.

Se em família as coisas vão sendo resolvidas sem grande aparato e com alguma conversa, pouco tempo me sobra para tentar solucionar os problemas do país, não me restando alternativa que não seja confiar na sorte que nos calhou. O país tem um problema chamado economia paralela que representa cerca de 25% do PIB (dentro da média europeia). São 40 mil milhões de euros que não passam pela máquina fiscal e a ideia que os rapazinhos que nos calharam na rifa encontraram para combater tal desvio é fazer de cada um de nós um queixinha. Ou seja, o estado assume como princípio que todo o agente económico é um criminoso em potência, e envia o queixinhas para controlar a situação, acenando com um carro topo de gama a oferecer ao queixinhas mais sortudo da semana. Consciencializem como bem entenderem, fiscalizem como gente séria que pretendem ser, criem mecanismos que permitam detectar os prevaricadores, incentivem o lado correcto. Serei um queixinhas pelas razões certas, mas nunca com uma cenoura à frente do nariz.

já que aqui estás