escritos de Pedro Silva

2 Abril 2014

Se não me falham as contas, há 10 anos decorreu neste país à beira-mar plantado o campeonato europeu de futebol de 2004. Portugal respondeu à altura de toda a sua grandiosidade. Construiu 10 novos lindos estádios, cuja utilidade é hoje por todos reconhecida.
De baixo para cima como mandam as regras, temos então. Estádio do Algarve: transformado numa academia de moscas. Antigos estádios de Benfica e Sporting: demolidos e transformados em novos estádios de Benfica e Sporting. Estádio Municipal de Leiria: transformado em centro de estágio para moscas. Estádio Municipal de Coimbra: transformado em aldeia olímpica para moscas, onde de 15 em 15 dias o futebol da Académica joga também as suas competições. Estádio Municipal de Aveiro: centro de treino de alto rendimento para moscas. Estádio do Bessa: completamente remodelado e dado como desaparecido há meia dúzia de anos. Estádio do FC Porto: demolido e transformado no novo estádio do FC Porto. Estádio do Guimarães: completamente remodelado. E terminamos em Braga. Um estádio lindo, mas tão lindo, que os 33 milhões de euros orçamentados derraparam à saída de uma curva, para os 150 milhões. Tudo isto num país repleto de auto-estradas, por onde as moscas se deslocam livremente para conviver nos seus periódicos encontros desportivos.

Distribuído o bolo da construção pela malta habitual, seguiu-se o campeonato propriamente dito. O país encheu-se de bandeiras e orgulho e a europa curvou-se perante uma organização sem falhas. Os prometidos proveitos económicos, esses, caíram num saco cheio de betão. O resto é história. Desde 2004, curiosamente o ano em que a Grécia organizou os Jogos Olímpicos, crescemos que nem uns doidos, escapámos por uma unha negra à organização do campeonato do mundo de 2018 e somos hoje um país próspero e rico, a quem calhou na rifa organizar a final da Liga dos Campeões de 2014. Paulo Núncio, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais defendeu no Parlamento a proposta de lei do governo que prevê isenções fiscais em IRC e IRS para as entidades, clubes e desportistas envolvidos na final da Liga dos Campeões, alegando que… “os benefícios económicos da prova não podem ser negligenciados”! A proposta de lei foi aprovada sem qualquer voto contra.
Esqueçam os benefícios económicos do restaurante do senhor Zé, da fábrica do senhor Manel ou da retrosaria da dona Amélia, e dêem as boas vindas à final da liga dos campeões isenta de impostos. Brevemente num estádio perto de si. Pago com os seus impostos.

já que aqui estás