Era uma vez um hipopótamo chamado Vasco Macieira que vivia no jardim zoológico de um país da América do Sul. Certo dia o hipopótamo Vasco Macieira foi picado numa das suas coxas por um grupo de mais de 1000 mosquitos. A comichão era tanta que o hipopótamo Vasco Macieira passou grande parte do dia a esfregar a coxa numa árvore, na tentativa de aliviar a comichão. Tanto esfregou que apareceu o Génio da Árvore, anunciando: “Bom dia, hipopótamo Vasco Macieira, eu sou o Génio da Árvore!”.
Apesar de desconhecer a utilidade do Génio da Árvore, o hipopótamo Vasco Macieira deu pulos de alegria quando viu surgir o Génio da Árvore. Afinal, o hipopótamo Vasco Macieira era um hipopótamo solitário, angustiado por viver sem companhia desde que fora ferido com gravidade num joelho e enviado para a América do Sul no início do século. Apenas trocava algumas palavras de quando em vez com a sua vizinha girafa Tatiana Esteves, uma girafa tão alta, mas tão alta, que vivia a maior parte do tempo constipada, rodeada de nuvens, neblina e chuva miudinha.
“Como eu ia a dizer, Sr. Hipopótamo Vasco Macieira, eu sou o Génio da Árvore e concedo-lhe 3 desejos. Se não for muito incómodo, vamos despachar o assunto, que eu tenho centenas de desejos para conceder. Há por aqui uma praga de mosquitos e os animais estão a esfregar-se por todas as árvores do jardim zoológico” – acrescentou o génio, impaciente.
O hipopótamo Vasco Macieira pôs-se a pensar, sem saber ao certo o que desejar. Pensou, pensou e pensou, até que sentiu mais uma forte comichão na coxa e sem hesitar pediu o seu primeiro desejo: “Quero uma pomada para acabar com esta comichão”. E através de um golpe mágico apenas ao alcance dos geniais génios da árvore, no instante seguinte o Génio da Árvore fez aparecer a melhor pomada jamais feita para combater comichões em hipopótamos.
“Um já está”, alertou o génio da árvore. “Venha de lá rápido o próximo, que tenho um macaco aflito a esfregar-se numa das palmeiras da Rua das Macacadas”.
“Não se preocupe, sr. Génio da Árvore. Sei muito bem o que desejo”, disse o hipopótamo. “Desejo que me traga a hipopótama mais bonita que encontrar!”. E no momento seguinte, num incrível gesto de magia que apenas os melhores génios da árvore conseguem alcançar, o hipopótamo Vasco Macieira foi surpreendido com a mais bela hipopótama que os seus olhos haviam visto.
“Resta-lhe um desejo, caro amigo”, disse o Génio da Árvore. “Agradecia que não demorasse. Há outros animais a aguardar a minha chegada e ainda tenho que ir buscar os meus geniozinhos à escola”.
O hipopótamo Vasco Macieira, deslumbrado com a beleza da hipopótama, avançou decidido: “Nestes últimos anos tornei-me num hipopótamo descuidado. Preciso de emagrecer duas toneladas. Preciso que os meus peitorais se tornem atraentes e que estas gigantescas narinas deixem de ser gigantescas. Preciso de uma dentadura nova. E um pouco de cabelo. Sabe, estou cansado de ser um hipopótamo careca. Vou querer uma cauda de cavalo. E olhos azuis. E mudar a cor da pele. Não quero mais ser um hipopótamo cinzento. Talvez verde e branco. Sim, vou ser um hipopótamo verde e branco! Às listas verticais. Sem esquecer uns óculos escuros e…”.
O hipopótamo Vasco Macieira foi subitamente interrompido. Lá do alto, bem em cima, por trás de uma nuvem escura, surgiu a voz constipada da girafa Tatiana Esteves: “E eu? E eu?”.
O hipopótamo Vasco Macieira respondeu, ofendido: “Girafa Tatiana Esteves, não vês que estou ocupado? Este é um momento muito importante para a minha vida. Não sejas desagradável”.
“E eu? E eu?”, insistiu a girafa Tatiana Esteves.
“E tu. E tu o quê, girafa Tatiana Esteves?”, questionou o hipopótamo Vasco Macieira.
“E eu? E eu, seu hipopótamo vaidoso, vivo aqui em cima ao frio, a espirrar vezes sem fim, a fungar do nariz, sempre agarrada aos lenços. Eu, seu hipopótamo egoísta, vivo aqui em cima ao frio, onde os mosquitos não picam e onde as árvores não chegam. Hipopótamo Vasco Macieira, aqui em cima ao frio os génios não concedem desejos”.
A hipopótama recém-chegada lançou um olhar ameaçador ao hipopótamo Vasco Macieira. O hipopótamo Vasco Macieira baixou a cabeça, envergonhado. O Génio da Árvore bateu o pé, impaciente. A Girafa Tatiana Esteves espirrou, fungou e assoou o nariz. E sem que fosse necessária mais alguma palavra, o Génio da Árvore, num daqueles toques de magia que apenas os génios da árvore entendem, fez da Girafa Tatiana Esteves uma girafa igual a tantas outras, de apenas 4 metros de altura. Longe do frio, das nuvens, da neblina e da chuva miudinha. Dizem por aí que a hipopótama recém-chegada e o hipopótamo Vasco Macieira viveram felizes para quase sempre. E que a Girafa Tatiana Esteves nunca mais se constipou.