escritos de Pedro Silva

29 Janeiro 2014

Se perguntarmos a 100 empresários quais os objectivos para a sua empresa, cerca de 100 responderão qualquer coisa como “sustentar e desenvolver o negócio de modo a gerar lucro”. No mundo das empresas privadas, a palavra-chave é… lucro. Faça chuva ou faça sol. Ora, se uma empresa quer crescer e obter lucro, uma das muitas valências a colocar em cima da mesa é poder contar nos seus quadros com profissionais honestos, produtivos e competentes. Na administração pública o caso muda um pouco de figura. A frase que nos anos 90 António Guterres lançou – “no jobs for the boys!” – em jeito de murro na mesa, não só se revelou perfeitamente inócua, como continuou a ser prática comum, banal até, e quase como por decreto, colocar o amigo errado no tacho certo. 


Os números da reprodução desta espécie, qual rato do campo, atingiram uma grandeza tal, que em finais de 2012 foi criada a CRESAP (Comissão de Recrutamento e Selecção da Administração Pública… ufff…), que emite pareceres (não vinculativos) sobre as nomeações do governo e lança concursos para preencher vagas de topo na administração pública. Ou seja, os governantes reconhecem a doença. Reconhecem o jogo viciado em que caíram. E reconhecem que são incapazes de lá sair pelo próprio pé. O que é um bom princípio! O problema é que o médico também está doente. E o que receita o médico para combater as nomeações de amigos de capacidades duvidosas para cargos de elevada responsabilidade e o despesismo descontrolado na administração pública? O médico receita a nomeação de um amigo para presidir a um organismo público, pago com dinheiros públicos, para controlar admissões na administração pública. Uma verdadeira pescadinha de rabo na boca, cozinhada dentro de um tacho.
Haverá excepções. Haverá pessoas certas nos lugares certos. Infelizmente, a imagem que o país foi construindo de si próprio é a de uma regra onde a meritocracia ficou esquecida na gaveta, um país onde continuarão a existir muitos almoços para pagar. As recentes nomeações que o Diário de Notícias tem vindo a denunciar, em concursos feitos à medida de fulano tal com o currículo tal, assim levam a crer. Somos um país viciado no jogo, que em vez de parar, abre o seu próprio casino.

já que aqui estás