5 Dezembro 2013
Recentemente estive envolvido, como observador, moderador e diplomata, numa disputa que envolveu duas pessoas que me são bastante próximas. Embora tivesse esgrimido consideráveis esforços, não cheguei a conhecer a fundo as razões para que essas duas pessoas, tão amigas, tão cúmplices e desde sempre habituadas a conviver no mesmo espaço, estivessem naquele momento de costas voltadas. Tentei, das mais variadas formas, fazer com que se voltassem a aproximar. Que encetassem diálogo. Que negociassem. Que atirassem a zanga para longe. Que esquecessem o motivo da disputa. Em vão. Durante o que me pareceu uma eternidade, permaneceu no ar o ressentimento e o rancor entre ambos. Não era a primeira vez que tal acontecia e não será certamente a última. Esgotada a via diplomática, só me restou fazer aquilo que se costuma fazer quando já se fez tudo e não há mais nada a fazer: não fazer absolutamente nada e aguardar novos desenvolvimentos.
Novos desenvolvimentos mais tarde, começaram a surgir os primeiros sinais que haveria uma base para um entendimento entre as partes. Primeiro de uma forma tímida, depois através de uma abordagem mais determinada que levou um dos intervenientes a propor tréguas, prontamente aceites pelo segundo proponente, como se se tratasse de uma nação derrotada num conflito mundial, à espera de assinar uma rendição incondicional. A uma distância de segurança, fui observando o desenrolar do processo de paz com um indisfarçável sorriso de satisfação. Como vem sendo habitual, o acordo é selado através de um complexo cumprimento entre ambos, que envolve estranhas rotações dos membros superiores e dedos que se cruzam numa dança sem fim. A meio do processo, algo não bate certo e gera-se nova discussão sobre qual das partes estará a executar erradamente o acordo de paz. O tal sorriso de satisfação dá agora lugar a uma expressão de indignação perante o iminente falhanço no acordo. Felizmente, desta vez, fica acordado que o complexo cumprimento está dispensado e a paz fica oficialmente instalada até à próxima zanga. E os meus filhos lá vão brincar juntos para o seu canto.
Perante a crise de valores que se instalou um pouco por todo o mundo, são as crianças de hoje e de sempre que nos dão diariamente, mesmo sem o saberem, verdadeiras lições de vida. Façamos o favor de retribuir. Está mais que na hora.