escritos de Pedro Silva

13 Março 2014

Se formos verificar com algum rigor as previsões económicas no ano de 2007, facilmente constatamos que as perspectivas para os anos seguintes eram francamente positivas.
Em 2007 o futuro era risonho. Em 2008 o mercado financeiro rebentou.
Em 2007, num universo de 1 milhão de economistas no mundo inteiro, não houve um só que conseguisse prever a hecatombe de 2008. Em 2014, não há um que não conheça as razões para tal ter acontecido. Estava-se mesmo a ver. Mas ninguém viu.


Por cá, um conjunto de 70 notáveis, muitos deles parcialmente responsáveis pela situação que nos encontramos, escreveu um manifesto a defender a reestruturação da dívida pública portuguesa. As 70 notáveis personalidades não escreveram um manifesto a defender a renegociação das PPP. Os 70 crânios não escreveram um manifesto a defender um combate sério à corrupção ou à eficácia da justiça, que impeçam que altos crânios da nossa banca possam escapar a multas de 1 milhão de euros por prescrição do processo. As 70 altas individualidades não escreveram um manifesto a defender o fim do esbanjamento de fundos públicos nas milhares de fundações inúteis que por aí abundam e que servem os altos amigos das 70 altas individualidades. Os 70 artistas não escreveram um manifesto a defender a redução do cada vez maior fosso entre ricos e pobres. Os 70 artistas querem, sim, reestruturar a dívida. Que não conseguiram prever. E baseiam-se num conjunto de… previsões. Caso a reestruturação não aconteça. A saber:
– “A dívida pública tornar-se-á insustentável na ausência de crescimento duradouro significativo”
– “Não será possível libertar e canalizar recursos minimamente suficientes a favor do crescimento”
– “O Estado continuará enredado e tolhido na vã tentativa de resolver os problemas do défice orçamental e da dívida pública pela única via da austeridade”
– “A economia sofrerá simultaneamente constrangimentos acrescidos”
– “O ganho sustentado de posições de referência na exportação ficará em risco e inúmeras empresas ver-se-ão compelidas a reduzir efectivos”
– bla bla bla, bla bla…


O grupinho dos 70 até pode estar perfeitamente certo. Quem sou eu para contrariar. Eu, que não consegui prever o colapso financeiro de 2008! É muito fácil escrever manifestos a defender reestruturações de borradas passadas. Tão fácil como acrescentar ao manifesto a defesa de uma reestruturação de toda a classe política. Esse manifesto assinarei. As previsões de tal reestruturação são, garanto, manifestamente optimistas.

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