3 Outubro 2013
Várias conclusões assustadoras podem ser retiradas depois de escrutinados os resultados das eleições autárquicas do passado domingo.
A primeira conclusão assustadora resulta do valor da abstenção: quatro milhões e meio de pessoas – praticamente metade da população portuguesa- não foram às urnas. Motivos há muitos. Uns não foram por descrença na classe política e no destino do país, outros como protesto. Uns porque já faleceram, outros porque já emigraram. Uns porque sim, outros porque não. O facto é que, convencendo toda esta malta a votar no VTCDGT (Vamos Tomar Conta Desta Gaita Toda), e tínhamos este movimento, liderado por ex-abstencionistas, a tomar conta desta gaita toda. E isto, meus amigos, pode ser assustador.
A segunda conclusão assustadora é retirada da outra metade. A que foi às urnas. A onda de protesto que varre todo o país, que se sente nas pessoas e se ouve nas ruas… não se reflecte nas urnas. Continuamos teimosamente a votar nos mesmos de sempre e esperar resultados diferentes. É assustador.
O que nos remete para a terceira conclusão assustadora: a alternativa aos mesmos de sempre é medíocre, ineficaz e não inspira confiança nos eleitores. Assustador!
Sem querer transformar isto num filme de terror, termino com uma última conclusão assustadora. Dobrámos o número de votos brancos e nulos em relação às autárquicas de 2009. Assustador, pois claro.
Soluções? Assim de repente, só vejo uma. Colocar um filtro muito apertado em toda a classe política, de modo que “sobrevivam” apenas os que sejam simultaneamente honestos, trabalhadores, competentes, credíveis e disponíveis para a causa pública. Pegar nesses 4 ou 5 indivíduos, criar um movimento independente e convencer os quatro milhões e meio de abstencionistas a votar. Assustadoramente irrealista, mas sonhar (ainda) não paga imposto.
Por cá, o cenário foi o espelho do resultado nacional. Muita abstenção, o dobro de votos brancos e nulos, o voto nos mesmos de sempre. Miguel Almeida, por muito que tenha tentado, não se conseguiu descolar do rótulo PSD, e isso foi fatal. Fez uma campanha muito trabalhada e profissional, assente numa estratégia virada para as pessoas. No entanto, o descrédito total na classe política, tão patente nos dias que correm, não permite que uma campanha eleitoral, por muito bem conduzida que seja, produza efeitos práticos (leia-se “votos”) no eleitorado. A excessiva (e também inevitável) colagem a Santana Lopes não terá sido a melhor das estratégias. O mundo mudou, o país mudou. O dinheiro não abunda. O crédito sem limites terminou. A obra para encher o olho esgotou. Em suma, deixou de haver espaço e tolerância para uma governação excessivamente despesista como a de Santana Lopes. Pese embora a consciência de Miguel Almeida para um compromisso futuro com pouco recursos, o subconsciente do eleitorado deixou-o colado a Santana, de uma forma negativa.
Espero que nos próximos 4 anos coloque ao dispor do concelho todo o conhecimento e experiência adquiridos. Seria uma mais-valia muito bem-vinda e a melhor prova de respeito pelas gentes da sua terra.
Parabéns aos vencedores, honra aos vencidos.