7 Novembro 2013
Hoje sonhei que me tinha sido concedida a responsabilidade de gerir um parque de estacionamento público, situado bem no centro da cidade e com capacidade suficiente para albergar o parque automóvel local. Contratado o pessoal de escritório, necessitei de técnicos especializados na arte de arrumar carros. Fui então para as ruas recrutar rapaziada mal vestida, a dever horas ao duche, com distúrbios sociais, barba por fazer, dificuldades na articulação de frases, mau aspecto geral e com vícios por sustentar. Depois tive de os preparar para a função. Duas semanas de formação com tudo pago: café, bolo de arroz, cigarros e senhas de transporte. Conceitos básicos de linguagem gestual, sistemas avançados de intimidação, manter o mau aspecto bem cuidado e mesmo assim captar clientes, e métodos de retaliação a utentes difíceis, foram alguns dos módulos ministrados. Correu tudo lindamente. A malta, apesar de mal paga, estava relativamente contente. Os utentes, apesar de ou outro problema, usufruíam do espaço com relativa confiança.
Depois, aos poucos, as coisas começaram a correr mal. Como se não bastasse o decréscimo do tráfego automóvel, foram construídos novos parques de estacionamento e concedida a sua exploração a privados. Eram parques de excelentes condições, mais caros mas com serviços extra de manutenção e limpeza do veículo, entre outros, e com os melhores arrumadores do mercado, asseados e de fato e gravata. Os bólides de grande categoria passaram a utilizar os novos parques de estacionamento. Estes recebiam apoios financeiros consoante o número de estacionamentos efectuados. Inevitavelmente, deixou de haver dinheiro para melhorar o parque de estacionamento à minha responsabilidade. O sonho tornou-se pesadelo e acordei sobressaltado.
Caro leitor, se quiser compreender o motivo do sonho que se transformou em pesadelo, perca 30 minutos do seu tempo a ver esta reportagem (http://www.tvi.iol.pt/programa/reporter-tvi/3008/videos/128753/video/13998848) e compreenderá melhor como funciona o seu país.