12 de Junho de 2014
O maior problema que o homem do quiosque pode enfrentar quando existe uma fotocopiadora dentro do quiosque é a simples existência de uma fotocopiadora dentro do quiosque. A simples existência de uma fotocopiadora dentro do quiosque implica um compromisso para com o cliente que pede para tirar umas cópias. Não há como escapar, a fotocópia tem que ser tirada.
Das 1001 coisas que podem acontecer quando se tira uma fotocópia, apenas uma garante um resultado satisfatório: o original está legível, as folhas estão correctamente colocadas, a alimentação funciona e a fotocópia avança por dentro da máquina sem problemas, até chegar às mãos de mais um cliente satisfeito com o trabalho efectuado pelo homem do quiosque junto da sua magnífica fotocopiadora. Das restantes 1000 coisas que podem acontecer, desde encravanços até fotocópias manifestamente escurecidas devido ao original já de si manifestamente escurecido, há uma que me faz tremer de medo: quando o cliente faz a abordagem sob a forma “queria tirar umas cópias… ora bem…”.
O “queria tirar umas cópias… ora bem…” faz-me sentir o Aladino adormecido cuja lâmpada mágica acabou de ser esfregada, e a quem vão ser pedidos os desejos mais excêntricos.
Estava eu hoje a dormir descansado dentro da lâmpada mágica, quando senti uma esfregadela mais violenta que me fez acordar sobressaltado.
– Boa tarde, queria tirar umas cópias… ora bem… o meu amigo vai fazer o seguinte… tira-me esta cópia… depois na parte de trás da cópia vai fazer uma cópia desta outra folha mais pequena… e depois… como é que hei-de explicar isto… o meu amigo vai pegar na cópia resultante e no espaço em branco que sobrar vai tirar uma cópia à parte de trás desta folha mais pequena… eu sei que a parte de trás desta folha está em branco, mas quero que tire mesmo assim. Compreendido, amigo?
– Depois de isso tudo quer que tire uma cópia de uma folha em branco?
– É isso mesmo, amigo!
– Está a falar a sério?…
– Oh amigo, é para eles saberem que a parte de trás desta folha está em branco. Se me tirar uma cópia da folha em branco, isso prova que não estou a fazer nenhuma aldrabice.
– Resumindo… o senhor quer que eu tire uma fotocópia de uma folha em branco? É isso?
– É isso mesmo, amigo! Já agora, oh amigo, você vai cobrar-me essa fotocópia? (ri-se)
– Não sei que lhe diga, na tabela de preços não está prevista a fotocópia em branco (ri-se também)
– Veja lá, oh amigo… (há um amontoado de gente a rir-se)
– Acho que desta vez passa. Ninguém merece que lhe seja cobrada uma fotocópia em branco.
O homem do quiosque e o senhor da fotocópia em branco. Ficaram amigos para sempre.